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08/08/2011

Espirulina

Por http://grep.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-16211-3-262644,00.html

Farinha de algas



Bem-vindos ao admirável mundo da engenharia alimentar. Na Fundação Universidade Federal de Rio Grande (Furg), extremo sul do Brasil, dois tipos de bolo de chocolate estão competindo no teste de sabor. As voluntárias tomam goles de água entre um pedacinho e outro para apurar o paladar. Mas na hora de escolher o melhor, nenhuma dúvida.


"O bolo que ela mais gostou foi desenvolvido no nosso laboratório e possui espirulina na sua composição. O outro bolo, que ela não gostou tanto, é comercial, comprado em qualquer supermercado", revela o coordenador da pesquisa, o engenheiro de alimentos Jorge Alberto Vieira Costa.

A voluntária diz que não sabia que o bolo tinha alga na composição. "Em nenhum momento o gosto foi parecido com alga. Tinha gosto de bolo normal", diz.

Normal? Que nada. O principal ingrediente do bolo veio das águas de uma área de preservação ambiental, a 500 quilômetros de Porto Alegre. No Banhado do Taim nasce a Lagoa Mangueira, onde pesquisadores identificaram a presença de um dos alimentos mais completos já descobertos pelo homem: a microalga espirulina.

"Ela tem 60% de proteína. É um dos alimentos com maior potencial protéico que existem. Só para comparação, a carne tem 20% e o leite tem 12%", diz o coordenador da pesquisa.

A espirulina é mesmo poderosa. E na estufa da Furg, os pesquisadores conseguem produzir 50 quilos por mês. Na colheita, a cada três dias, dá para ver como se reproduzem rapidamente. Depois, são mais algumas horas no processo de secagem até saírem do forno com cara de palitinhos verdes.

E a espirulina que chegou ao laboratório em forma de palitinhos foi transformada em sopa, bolo, gelatina e até em barrinhas de cereais. A diferença entre esses produtos e aqueles que se encontram nas prateleiras dos supermercados vai além da cor verde, típica das algas. É que esses alimentos ajudam a reduzir o colesterol e a prevenir doenças cardíacas.

O coordenador da pesquisa explica: a espirulina tem uma grande concentração de sais minerais e de vitaminas e é uma poderosa fonte de ômega 3 e ômega 6. Mas o sucesso está mesmo no índice de aproveitamento: nosso organismo consegue absorver 90% dos nutrientes da espirulina.

"Se eu ingerir 1 quilo de soja, vou aproveitar menos de 500 gramas. Se eu ingerir 1 quilo de massa, vão ser aproveitados 700 gramas. Se eu ingerir 1 quilo de espirulina, mais de 900 gramas vão ser aproveitados pelo meu organismo", diz Jorge Alberto Vieira Costa.

A espirulina faz bem porque é rica e muito simples. Exige pouco das enzimas na hora da digestão, deixando-as livres para se dedicarem à renovação das células. Os ácidos graxos ômega 3 e ômega 6 funcionam como antiinflamatórios naturais.

"Seriam úteis na prevenção de doenças cardiovasculares, arteriosclerose, diabetes, doenças neurovegetativas, neuropatias diabéticas, tudo o que fosse decorrente de doenças circulatórias. Além disso, ela melhora quadros de anemia, porque contém ferro e vitamina B12, que são constituintes minerais que combatem a anemia. Então, ela pode ser bastante útil em casos de desnutrição e subnutrição", esclarece a nutricionista Maribel Melos. 

Quem diria! Tanto poder escondido nas águas. Mas o Brasil ainda não produz comercialmente a espirulina.

"Países desenvolvidos, onde a quantidade de sol é menos de seis meses ao ano e as temperaturas não são adequadas, produzem essas algas e exportam para nós. E nós compramos as algas a um preço bem alto", diz Jorge Alberto Vieira Costa.

Graças à pesquisa, a Furg já produz espirulina em escala suficiente para marcar presença na merenda escolar de Rio Grande. Em abril, essas delícias deixarão de ser exclusividade do laboratório.

"Algumas crianças já provaram e não fizeram cara feia. Tem alga sabor chocolate, canela, limão, kiwi. A gente consegue fazer isso ao gosto do freguês", conta Jorge Alberto Vieira Costa.

MAIS INFORMAÇÕES:

Jorge Alberto - Professor jorgealbertovc@terra.com.br

 

 

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